top of page

Jogos Digitais e História Pública

Recentemente, na historiografia, um debate vem ganhando fôlego, a História Pública. As discussões são balizadas, geralmente, por alguns dilemas, como significados, memória coletiva, dever de memória, escrita da história, usos do passado, o papel da mídia, entre outros.

O historiador Ricardo Santhiago (UNICAMP) diferencia 4 formas de História Pública: 1) História feita para o público, 2) História feita com o público, 3) História feita pelo público e 4) História e público¹. É ao terceiro aspecto que vamos nos referir hoje, a história feita pelo público. Público aqui entendido como alguém que não é historiador, ou seja, aquele que está fora dos muros da Academia (não tem formação acadêmica na área ou não faz parte de alguma instituição), o que nesse caso é um número considerável de indivíduos, incluindo jornalistas, memorialistas, grupos sociais e todo e qualquer indivíduo que utiliza da memória em determinada produção.

No Brasil duas produções vêm chamando a atenção do público por balizarem essa relação e, nesse caso específico, também ampliam as discussões sobre a História Pública. São os jogos Smoking Snakes [Cobras Fumantes] e Prison Island [Ilha do Presídio].

Smoking Snakes

Estúdio: Weendie Games (Brasil)

Gênero: Multiplayer FPS (First Person Shot)

A Força Expedicionária Brasileira foi enviada para o campo de batalha na Europa para enfrentar os regimes fascistas, a campanha de destaque foi na Itália. Em Smoking Snakes, um FPS, há uma referência direta ao descrédito por parte do público sobre a atuação do Brasil na segunda guerra mundial (1939-1945). Os aspectos históricos que são ressaltados no jogo dizem respeito a indumentária, armamentos, medalhas e condições adversas que os pracinhas enfrentaram durante o conflito.

Os desenvolvedores afirmam que "é mais do que um jogo", pois desejam "lembrar dos soldados que foram enviados para a Segunda Guerra Mundial", tentando transportar para o jogador a experiência com "maior nível possível de fidelidade". As experiências dos pracinhas, bem como suas memórias, podem ser revividas nesse jogo.

Acompanhe o desenvolvimento de Smoking Snakes aqui.

Prison Island

Estúdio: Utopia (Brasil)

Gênero: Survival Horror

Já em Prison Island os horrores da ditadura são revividos em um jogo de terror. Os desenvolvedores do jogo tiveram acesso à documentação de presos políticos da ditadura e sobre as principais formas de repressão utilizadas pelo regime civil-militar e recriam a atmosfera de terror e perseguição no jogo.

Na trama, um survival horror, você controla um membro da Comissão da Verdade e deve investigar a Ilha do Presídio (localizada no Rio Grande do Sul) e a partir daí você deve sobreviver, sozinho, a noite, em um local que é repleto de terror, material e simbolicamente.

Prison Island pode ser baixado aqui.

Como pode ser percebido o grande público relaciona-se com as diversas formas de memória de uma maneira bem distinta do historiador. Maneiras essas que devem ser analisadas e debatidas, pois o historiador não tem monopólio sobre a memória. Longe de encerrar a discussão, o que foi exposto aqui em linhas gerais, serve para suscitar ainda mais o debate em torno da relação entre História Pública e os Jogos Digitais.

 

¹ SANTHIAGO, Ricardo (org.). História pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

 

Como citar este artigo:

LIMA, Hezrom Vieira Costa. Jogos Digitais e História Pública. (Artigo) In: História em Jogo. Disponível em: http://www.hezromvieira.wixsite.com/historiaemjogo. Publicado em: 03 fev. 2018. Acesso [informar a data do acesso].

bottom of page