Para aqueles que cresceram nos anos 1990, o referencial de cultura e mitologia grega, provavelmente, pode ser personificado em Hércules, seja na série televisiva em canais abertos - com o ator Kevin Sorbo, ou no desenho animado da Disney. De qualquer forma os mitos gregos eram representados e transmitidos em larga escala para a mídia de massa.
Atualmente, sobretudo para aqueles que atuam como professores da educação básica, percebe-se que o norte referencial da cultura grega, principalmente no seu aspecto mitológico, foi modificado, sendo transferido da TV para os Jogos Digitais. Tornou-se bastante comum diversos alunos terem contato com a mitologia grega através da série God of War.
A série foi lançada em 2005, para o PlayStation 2, e conta a história do guerreiro Kratos, um soldado espartano que é enganado por Ares, e acaba assassinando sua esposa e filha. Kratos parte em busca de vingança, tornando-se o "fantasma de Esparta".
Os mitos gregos são personificados e o personagem pode transitar pela Grécia Antiga, misturando aspectos reais com a mitologia, o que enriquece bastante a experiência do jogador. O panteão grego faz-se presente no enredo do jogo e, ao já citado deus da guerra, somam-se Atenas, Hades, Zeus, Poseidon, para exemplificar alguns, que exercem papéis chave na trama do jogo.
Os aspectos "humanizados" das divindades gregas também são apresentados, tomemos como exemplo o principal antagonista da série (Ares). Apesar da crueldade com que engana o personagem principal (Kratos), o filho de Zeus tem suas motivações as quais não são colocadas como mero apêndice, mas são relacionadas à psicologia do personagem. Ares é o deus da guerra e sabendo que Kratos só poderia se transformar em um guerreiro perfeito se não tivesse laços afetivos com ninguém, daí sua escolha em eliminar os familiares do espartano. A violência é um elemento que chama a atenção no jogo, seja simbólica ou estética, aproximando-se bastante dos mitos gregos.
Porém, a mitologia grega presente nos jogos não se restringe à série God of War - que já conta com 4 títulos e colocou Kratos para enfrentar os deuses nórdicos. Outros jogos são focados nos mitos gregos, sejam eles de aspectos mais visíveis ou relacionadas a outras questões como é o caso de Bioshock¹.
Outro jogo que tem com foco a mitologia, não somente a grega, pois também transita pelos mitos egípcios e nórdicos², é a série Age of Mythology. No jogo somos apresentados a Arkantos, um general de Atlântida e também personagem principal da história do game. A trama do jogo é iniciada com uma animação, na qual o personagem principal enfrenta inimigos no tártaro, sendo avisado por Atena que os tempos mudariam e que mais uma vez os deuses precisariam da ajuda dos humanos. Em seguida Arkantos acorda e chega em sua cidade natal, onde é avisado de um ataque pirata. A partir daí podemos controlar tanto o general como suas tropas, arqueiros, hoplitas e outras unidades, além de criaturas mitológicas.
Vídeo da primeira fase da campanha grega, dublado em português.
O aspecto mitológico também faz-se presente no jogo através de poderes e unidades com habilidades distintas, como a medusa transformar em pedra tropas inimigas, um ciclope lançar para longe um soldado desavisado ou uma unidade derrotada retornar como uma sombra de Hades. Dependendo do panteão de deuses escolhidos é selecionado uma gama de unidades e poderes que podem ser utilizados para ajudar suas tropas ou prejudicar os jogadores inimigos.
Após o ataque pirata o tridente de Poseidon é roubado, obrigando Arkantos e suas tropas a seguirem os piratas. Nessa situação o jogador é levado por uma trajetória que envolve o personagem na Guerra de Tróia, conhecendo personagens como Odisseu, Ajax, Hércules e outros, relacionando seus mitos ao enredo do jogo. Arkantos também perpassa outras culturas, em especial a egípcia e a nórdica, tornando-os parte de um todo complexo, onde aquelas são apresentadas como parte de um mundo em que os deuses e seus povos convivem de maneira, relativamente, pacífica, pois apesar do jogo iniciar no mundo grego em momento algum o jogo transparece a ideia de que a cultura grega é superior as demais que são apresentadas.
Outro jogo que também bebe do caldo da mitologia grega e que já foi apresentado como um dos 10 jogos indispensáveis para quem ama História³, é Apotheon. Um jogo no estilo hack and slash, ou seja, jogabilidade e estilo de jogo na horizontal com fases. No jogo podemos controlar Nikandreos, o personagem principal, que vira herói e decide enfrentar os deuses em busca de vingança. Soa familiar? Pois é. Porém Apotheon não é uma cópia de God of War, aliás os jogos são bem distintos.
Quando os deuses decidem acabar com a humanidade Nikandreos se ergue e, ajudado pela deusa Hera, decide sair em busca de vingança, subindo ao monte Olimpo para "tirar satisfação" com Zeus. Lógico e evidente que o caminho não é nada fácil. Para conseguir enfrentar o rei dos deuses, Nikandreos deve treinar para ficar mais forte e adquirir alguns armamentos que lhe concedem poderes especiais para poder enfrentar os deuses em uma luta mais, digamos, justa.
Trailer com aspectos do gameplay de Apotheon.
O "campeão de Hera" transita pela cultura grega, encontrando trechos da Ilíada, em uma viagem que é tão bela quanto profunda. Todo o jogo é desenhando no estilo de pintura negra, então é comum perceber aspectos como o desgaste da cerâmica em determinado ambiente da fase. Tudo isso foi bem pensado pela equipe produtora e acrescenta ainda mais ao elemento imersão proporcionado pelo jogo.
Antes de chegar ao Senhor do Olimpo, Nikandreos tem que enfrentar criaturas mitológicas como sátiros, ninfas, ciclopes, deuses, entre outros. Por exemplo, antes de enfrentar Ares, o deus da guerra, temos que enfrentar seus filhos gêmeos, Fobos, que simboliza o terror, e Deimos, personificação do medo, os quais sempre acompanhavam seu pai no campo de batalha. Ainda no mesmo cenário, outra luta memorável é contra os Aloídas, também gêmeos, Otus [Otus] e Ephialtes [Ephialtes].
Já para enfrentar Atenas, a deusa da sabedoria, Nikandreos deve passar por um labirinto imenso, repleto de armadilhas, provando assim ser digno de derrotar a deusa da sabedoria.
Todos esses aspectos estão presentes nestes jogos e são importantes elementos que aproximam a cultura e a mitologia grega do grande público.
¹ GASI, Flávia. Videogames e Mitologia: a poética do imaginário e dos mitos gregos nos jogos eletrônicos. Nova Iguaçu: Marsupial, 2013.
² Aspectos que serão analisados posteriormente.
³ LIMA, Hezrom Vieira Costa. 10 jogos indispensáveis para quem ama História. (Artigo) In: História em Jogo. Disponível em: http://www.hezromvieira.wixsite.com/historiaemjogo. Publicado em: 9 jan. 2018. Acesso: 23 jan. 2018.
Como citar este artigo:
LIMA, Hezrom Vieira Costa. Mitos Gregos nos Jogos. (Artigo) In: História em Jogo. Disponível em: http://www.hezromvieira.wixsite.com/historiaemjogo. Publicado em: 23 jan. 2018. Acesso [informar a data do acesso].